Rio Grande da Serra

Campeã em 2023, a equipe da Vila Lopes busca repetir o feito em 2025

Com raízes na comunidade e torcida em crescimento, Vila Lopes volta à decisão embalada por união, identidade e futebol competitivo

A campanha do Vila Lopes na Divisão Especial de Rio Grande da Serra em 2025 é resultado de trabalho, resistência e conexão com a comunidade. O time, que sofreu apenas uma derrota e levou só seis gols ao longo do campeonato, se prepara para a decisão contra o Vila Conde embalado por uma caminhada sólida e uma torcida que vem crescendo a cada rodada.A trajetória da agremiação teve início por volta de 2007, a partir de um grupo de moradores que jogava futsal no Armação Ilimitada, time fundado pelo professor Zezão. Com o tempo, passaram a disputar festivais no campo do Beija-Flor, em Ribeirão Pires, até que, em 2009, surgiu a oportunidade de jogar a Segunda Divisão de Rio Grande da Serra. Na época, o clube utilizava uniforme tricolor — vinho, branco e verde — e tinha o leão como mascote.Em 2011, veio o primeiro grande título, com a conquista da Segundona nos pênaltis contra o Tornado. Desde então, o Vila Lopes se manteve na elite, o que motivou a criação de uma torcida organizada, com banda, bandeiras e uniformes. Keké, figura histórica e eterno presidente da torcida, fundou a TVL e propôs mudanças inspiradas no Shakhtar Donetsk: o mascote passou a ser o Coringa, e as cores oficiais do time mudaram para laranja e preto. Vieram campanhas marcantes, como a semifinal de 2016, a primeira final em 2019 (perdida nos pênaltis), a semifinal em 2022 e, enfim, o título conquistado em 2023 sobre o Santa Tereza. Em 2024, a equipe parou na semifinal diante do Ferrovia, que viria a ser o campeão. Agora, em 2025, o time retorna à decisão em busca do seu segundo título da Divisão Especial.A poucos dias da grande decisão, Murillo Alves, diretor e jogador da equipe, e Paulo Henrique, diretor da torcida, conversaram com o Jornal Folha sobre a campanha e os preparativos para a finalíssima, que acontece no dia 13 de julho, às 10h da manhã.“Tudo isso é fruto do nosso trabalho. Nada aqui é fácil, é uma batalha diária, árdua, enfrentada com muito esforço. Tudo o que o Vila Lopes conquista, tudo o que a torcida faz, vem daqui — somos nós que seguramos o reggae, sem ajuda de ninguém de fora”, resume Murillo. Ao lado dele, Paulo Henrique destaca a sintonia que se formou entre jogadores e arquibancada: “Esse ano surgiu uma união forte.Os jogadores estão correndo por nós e pela instituição. Isso está sendo gratificante.”A montagem do elenco começou ainda em 2024, logo após a eliminação nos pênaltis para o Ferrovia. Algumas saídas e chegadas deram forma ao grupo atual, com destaque para o atacante Thiago, um dos artilheiros da competição com cinco gols até o momento. “Ele é parceiro de alguns atletas nossos. Veio de Suzano e está agregando muito, tem um coração gigante. Meu filho acompanha a Kings League e tem ele como referência”, conta Murillo.Ser reconhecida como uma das maiores torcidas da região é uma conquista construída com muito trabalho e respeito à história. Mesmo com apenas dois anos como torcida organizada, os integrantes da TVL valorizam as raízes e os nomes que deram os primeiros passos — Zinho, Tita, Arlinda, Letícia, Maloca, Léo, Caverna, entre outros, e o eterno Keké.O crescimento desde o ano passado ultrapassou os limites do ABC, com torcedores como Kainan divulgando os materiais da torcida diretamente dos Estados Unidos. A proposta da TVL é clara: ser uma torcida de paz, que abraça a comunidade, acolhe as crianças e apresenta novas formas de torcer.Cada movimento é feito com carinho, dedicação e amor pelo clube. “A gente quer ser exemplo”, diz Paulo Henrique, mencionando torcidas que marcaram época, como Santa Tereza, Ferrovia, Vila Conde e São João. O objetivo é crescer com os pés no chão e, com o tempo, tornar-se uma das maiores do município — não só em número, mas em representatividade, organização e festa. Ele faz questão de reconhecer a torcida do Recanto pela festa feita com apenas 10 torcedores e muito coração. “É isso que inspira a gente.”Entre os momentos marcantes da campanha estão a vitória debaixo de muita chuva contra o Oásis Paulista — quando só a torcida do Vila Lopes estava no estádio — e a classificação na semifinal, garantida com duas defesas de pênalti do goleiro Luiz. “O olho já tava cheio de lágrima. Foi emocionante”, lembra Paulo.A vitória no clássico contra o maior rival, Vila São João, ainda na 2ª rodada, também marcou a trajetória do time em 2025. Para Murillo, o confronto foi carregado de rivalidade, mas vivido com maturidade e respeito entre as equipes. “Hoje está mais tranquilo, porque a maioria já está mais velha, então cada um respeita mais. A rivalidade existe, mas a amizade também”, comentou. Ele destacou a relação próxima entre jogadores dos dois lados, que se enfrentam com garra, mas mantêm o clima de união fora de campo. “Defendemos nossas camisas com tudo, mas depois que o juiz apita, é só resenha, cerveja e amizade. E é assim que tem que ser.” Rivalidade sim, desrespeito nunca.O reencontro com o Vila Conde na final traz um sabor especial. As equipes se enfrentaram na fase de grupos em um duelo equilibrado que terminou em 0 a 0. Para Murillo, o empate reflete a força do adversário: “É um time muito bom, bem treinado, com jogadores de qualidade. Foi um jogo fechado, com chances dos dois lados, e qualquer um que saísse vitorioso não seria surpresa.” Agora, a história é outra. “O nome já diz: é final. Não tem mais margem para erro. Só vale a vitória, e vamos buscar ela com respeito ao adversário e ao futebol.”Um fator que pesou naquele primeiro confronto foi a ausência da torcida, que cumpria punição. “É complicado jogar sem nossa torcida. Parecia que a gente estava sozinho, sem camisa, sem bateria, ninguém nas arquibancadas. A energia não era a mesma”, contou Murillo. “Na várzea, a torcida é o nosso 12º jogador. É ela que empurra, que motiva. E dessa vez, com todo mundo junto, a história vai ser diferente.”A expectativa para a final entre Vila Lopes e Vila Conde vai além das quatro linhas: a torcida da TVL prepara o que promete ser a maior festa do ano, marcada pelo esforço coletivo e pelo orgulho de representar a comunidade. Paulo Henrique faz questão de exaltar os bastidores. “Muitos acham que é coisa de um ou dois, mas somos onze pessoas na linha de frente”, explicou. Ele agradeceu nominalmente Larissa, Camila, Vini, Tio Chico, Caverna, Lucas, Lucão, Alan Gordão, Léo, Gugu, André e Alan, o presidente da torcida, além de destacar o apoio de Kikão e Mauro, nomes importantes na história do time.Apesar das colaborações, ele ressalta que a maior parte da mobilização parte do próprio grupo, que se desdobra para preparar bandeiras, instrumentos e coreografias. Com respeito aos adversários e desejo de uma festa bonita ao lado da torcida da Vila Conde, Paulo reforça: a TVL está só começando. “Esse é o nosso primeiro ano como torcida organizada atuando sozinha. Estamos aprendendo, passo a passo, e com certeza, daqui uns quatro ou cinco anos, vamos ser uma das maiores de Rio Grande.”A mensagem final é de convocação. “Quero agradecer a todos da comunidade da Vila Lopes Alta e Baixa. Vocês que têm amigos em outras cidades, tragam para torcer com a gente. Vamos fazer uma das maiores festas que essa cidade já viu. Obrigado a todos da diretoria, do time, da torcida. Que no dia 13 a gente saia de lá com o bicampeonato”, finaliza Paulo Henrique.Murillo, que buscará o troféu de dentro do campo, encerra: “Tamo junto, até dia 13. Valeu!”