Brasil

Taxa de fecundidade caiu para 1,55 filho por mulher, segundo Censo

Tendência nacional expõe mudanças culturais, desigualdades sociais e impacto da religião e escolaridade na escolha pela maternidade

Dados divulgados nesta sexta-feira (27) pelo IBGE mostram que o Brasil vive uma profunda mudança no perfil reprodutivo das mulheres. O Censo Demográfico 2022 revela que a taxa de fecundidade total (TFT) do país caiu para 1,55 filho por mulher, índice bem abaixo do nível de reposição populacional (2,1), indicando um país com menos filhos e um número crescente de mulheres que encerram a fase fértil sem serem mães. Em 1960, a Taxa de Fecundidade Total (TFT) do país era de 6,28 filhos por mulher. A tendência é nacional e se repete nas cinco regiões, com destaque para o Norte (1,89 filho por mulher) e o Nordeste (1,60), que ainda mantêm níveis mais altos. Em contraste, estados como Rio de Janeiro e São Paulo registraram as menores médias: 1,8 e 2 filhos por mulher, respectivamente. Outro dado importante é o adiamento da maternidade. O pico da fecundidade, que em 2010 estava entre mulheres de 20 a 24 anos, agora ocorre na faixa de 25 a 29 anos. A idade média da fecundidade subiu para 28,1 anos, sendo 29,3 anos no Distrito Federal, a mais elevada do país. Além disso, o percentual de mulheres entre 50 e 59 anos sem filhos aumentou de 11,8% em 2010 para 16,1% em 2022, indicando a consolidação de uma geração que não teve filhos, seja por escolha ou circunstância. No Rio de Janeiro, esse índice chegou a 21%. A pesquisa também aponta que o número médio de filhos entre mulheres que já passaram pelo ciclo reprodutivo caiu de 4,2 (em 2000) para 2,2 filhos (em 2022), refletindo mudanças culturais e sociais. O recuo foi mais acentuado entre mulheres com maior escolaridade: aquelas com ensino superior completo têm média de 1,5 filho, enquanto as sem instrução ou com fundamental incompleto chegam a 2,8. A cor ou raça também influencia. Mulheres indígenas apresentam a maior taxa de fecundidade (2,84 filhos), enquanto amarelas (1,22) e brancas (1,35) têm as menores. Já mulheres pardas (1,68) e pretas (1,59) permanecem acima da média nacional. A religião também interfere no comportamento reprodutivo. As evangélicas são o único grupo com TFT acima da média nacional (1,74). Espíritas (1,01), umbandistas e candomblecistas (1,25), católicas (1,49) e mulheres sem religião (1,47) têm fecundidade menor. O levantamento, feito com base no Questionário da Amostra do Censo 2022, permite cruzamentos com raça, religião, escolaridade e idade, proporcionando um retrato aprofundado da fecundidade no país. Os dados estão disponíveis no portal do IBGE e em plataformas como o SIDRA e o Panorama do Censo. Para o Grande ABC, onde o acesso à educação e aos serviços de saúde é maior, os dados nacionais refletem uma realidade já percebida: menos filhos, maternidade mais tardia e aumento de mulheres sem filhos. Esses fatores devem influenciar diretamente políticas públicas voltadas à saúde, educação e planejamento familiar nos municípios da região.